sábado, 30 de outubro de 2010

Alma Perdida

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!…

[Florbela Espanca]

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Vácuo

Entra aqui e me despedaça
Depois sai de alma lavada
E eu?
Me resta o pó, o nada
E um bocado de solidão

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Para minha pequena garota

Eu tenho uma pequena garota que vive comigo.
Ela dança, canta e se diverte. Se fascina com coisas que brilham e adora balões. Bate palmas quando não deveria e ri nos momentos mais inoportunos. Gosta de dizer bom dia quando a noite chega e boa noite ao amanhecer.
Ela é tão inusual! Até mesmo para uma garota pequenina. É quase uma criança, quando se olha bem de perto.
Ainda não sabe pronunciar algumas palavras. "Infelizmente, não deu!" é uma frase que ela precisa aprender. "Eu errei" ela já conhece, mas não consegue pronunciar muito bem "Tudo bem, posso tentar denovo!".
Também não aprendeu a pedir ajuda, não que ela ache que não necessita. Ela simplesmente não sabe.
Quando crescer talvez seja poeta ou coisa que o valha, mas por enquanto só ensaia o dom da expressão. E quando o faz, murmura. Não quer que o mundo ouça, mas eu sempre a escuto.
Como é linda a minha pequena! Quisera que o mundo a conhecesse... Mas ela só fala comigo e sempre bem baixinho. E como é frágil! Todo o dia ela morre um pouquinho e todas as manhãs tem de ser ressuscitada.
Quem sabe um dia, quando for forte e grande, ela possa debutar. Por enquanto ela vive aqui, quietinha comigo, como em um cativeiro voluntário.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Amour"



Como são estupidas as mulheres apaixonadas! Eis o tipo mais decadente de prostituição: Cobram tão pouco que esquecem o próprio valor.