sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Dia do psicólogo


Denovo me inspiro num post do blog da amiga elástica. Janice ou Nice para os íntimos.

Certa vez li um livro pra uma disciplina de Terapia breve II (Basicamente, teorias Existenciais/Humanistas) que me emocionou muito.
Determinada passagem do livro, falava sobre a postura do psicoterapeuta, quanto a seu comprometimento:

"É o sentimento mais profundo que nos motivou (ou deveria ter motivado) quando da escolha de tão árdua tarefa, que é a de acompanhar outro ser humano, em meio ás suas aflições, por entre tortuosos caminhos de sua dinâmica, esbarrando em obstáculos, resvalando em precipícios, desabando em emoções incontidas, tendo sempre a mão estendida, o ombro firme, os sentidos sempre aletras, os olhos sempre abertos, emprestando a esse outro ser uma parte de nós mesmos."¹

Em outra parte do livro, encontra-se o seguinte texto:

"Para o paciente que se acha só e confuso, perdido no labirinto da crise, a abordagem franca e confirmatória de sua existência e o reconhecimento de sua angústia pelo terapeuta têm a expêriencia da mão que se estende para impedir-lhe a queda definitiva"¹.

Ou seja, em primeiro lugar, antes dos cinco anos de intensa teoria, emprestar as minhas duas imensas orelhas pro sujeito, deixo ele falar o que quiser, só pra lembra-lo de que ele não está sozinho no mundo, que eu estou ali com ele. Só depois disso vem a teoria.

Não. Isso não é fácil.

Os meus colegas psis estão aí pra não me deixar mentir. Ás vezes alguém vai sentar na tua frente e te contar as coisas mais sujas, hediondas ou assustadoras que uma pessoas poderia dizer. Comportamento sexual bizarro, violência gratuíta, manipulações, medos injustificados... E é nesses momentos que tu tens que lembrar que aquela pessoa na tua frente é só uma pessoa (ás vezes só uma criança, no sentido literal da coisa!). Tão humana quanto tu. Tão desesperada quanto qualquer outra pessoa e que talvez ela só tenha a ti. Porque ela jamais contaria aquilo a um amigo. Esse tipo de coisa só pode ser revelada em um lugar protegido, a uma pessoa neutra e "treinada pra suportar". No caso, o terapeuta.

Por isso não é fácil. São cinco anos de intensa teoria, teoria essa baseada no sofrimento humano puro e simples. Doenças mentais, crises conjugais, problemas de aprendizagem, dificuldades no ambiente de trabalho, sistema de saúde pública = Sofrimento.

Uma vez mamãe me perguntou, quando soube que eu atendia uma criança anos: "Tu não chora?". Não (e olha que agora eu atendo duas crianças!). Porque eu lembro sempre que eu preciso emprestar a essas pessoas uma parte de mim mesma. Alguém entre nós tem que se manter saudável. Alguém tem que ser forte e sensível ao mesmo tempo. Alguém tem que aguentar as ansiedades, os sofrimentos, as dores, todo o pequeno mundinho de angústias deles e devolver isso tudo de uma maneira renovada. É isso o que a gente chama de terapia e isso serve também pros pacientes adultos.

Por isso eu fico pê da vida com charlatanismo, má prática da profissão e gente queimando psicólogo. Essas pessoas não tem idéia da dádiva, responsabilidade e do duro danado que se dá pra ser psicólogo (um bom psicólogo, porque também não vou ser hipócrita e dizer que todos os psicólogos que tem por aí são bons, né?).

Mas voltando ao foco. Hoje é dia do psicólogo e eu recebi um dos melhores presentes que alguém poderia ter recebido: o progresso de um paciente. 
O paciente em questão é um paciente que venho acompanhando desde o início do ano e que atualmente já apresenta sinais claros de evolução (como diminuição do sintoma principal). Em uma das sessões, o paciente (criança) me disse "Lisa, os coleguinhas não riem mais de mim!". Acho que foi uma das coisas mais legais que já ouvi. Principalmente porque tem momentos em que tu duvida da tua capacidade como terapeuta ou tu pensa "Será que essa coisa toda funciona mesmo?". E aí alguém te dá a resposta daquilo que tu perguntou durante anos da tua vida. É algo que não tem preço. Mesmo.

Pra mim, ser psicólogo é isso: É a imensa realização de saber que um dia alguém acreditou em mim com tanta fé que me confiou (mesmo que talvez sem escolha a principio), a grandiosa responsabilidade de ser o seu guia.

Parabéns pelo dia do psicólogo a todos os bons psicólogos que eu conheço, aos meus colegas futuros (quase) psis e aos estudantes de psicologia em geral! \o_


¹ FERREIRA-SANTOS,  E. Psicoterapia Breve: Abordagem sistematizada de situações de crise. São Paulo: Ágora, 4º edição, 1997.

4 comentários:

  1. Obrigada!
    Ameei o post.
    Parabens pra ti também! ;)

    Beeijos.
    Te amo!
    E confio no teu talento!

    ResponderExcluir
  2. Quando tu nasceu e olhei tua carinha vermelha que nem tomate, tive a certeza de que eras alguém especial. Alguém com sensibilidade bastante para ouvir, carinho ao falar, coragem para suportar, responsabilidade para se entregar e acima de tudo, alguém capaz de me fazer mudar meus conceitos (tortos).
    Parabéns pelo teu dia e por ser esta maravilhosa pessoa e filha de quem, a cada dia, me faz sentir gratificada. Tenho um grande orgulho de ti e de poder ser tua mãe.
    Te amo!!!!!!!

    ResponderExcluir
  3. Gostei do seu blog, bastate informativo. Foi muito bom ter encontrado-o. Valeu!!

    Bj

    ResponderExcluir
  4. ain, simplesmente, todos os anos que estudamos, os vínculos que formamos e as pendengas por que passamos não foram em vão, pelo menos me formo com a certeza absoluta de que tenho mais tres amigas e colgas as quais confio qualquer paciente meu!
    Aqui só tem psi A plus meu amigo!

    beijaooo

    ResponderExcluir