quarta-feira, 14 de julho de 2010

Despedidas

Tenho observado as pessoas - amigos, pacientes, bloggers - falando sobre pessoas queridas que se foram. Ás vezes recentemente, outras há muito tempo, mas é sempre sobre a ausência. A dor, a saudade, algumas vezes sobre o remorso. Outras sobre o sentimento de missão cumprida. Existem pessoas, até, que expressam cansaço e alívio. E existem aquelas que negam tudo e simplesmente seguem.

Certa vez eu perdi alguém que amava muito e me concentrei na dor dos outros enquanto sentia a minha própria dor. Me preocupei em como as pessoas a minha volta se sentiam. Quis ser forte. Quis cuidar. Quis ser eu, como sempre. Eu, a muralha. É claro que eu chorei, é claro que eu sofri. Mas eu costumo carregar a minha cruz sozinha. Ou como diria Marisa Monte:
"Se ela me deixou a dor,
É minha só, não é de mais ninguém".
Eu costumo de bom grado me oferecer pra carregar a cruz dos outros (não é a toa que a pessoa escolhe um curso como psicologia!), mas a minha cruz é sempre minha e só minha. Por que ser forte é tão mais valorizado, se como me disse alguém, a maior parte das coisas bonita e de valor vem em caixas dizendo "cuidado, frágil!".

Enfim, agora é a minha vez de compartilhar.

Era uma manhã de sol quando ela se foi. Uma manhã com um estonteante e maldoso sol. Como a maior parte das manhãs ensolaradas tem sido desde então. Quando o sol não tem outra função sem ser ofuscar as coisas e mostrar as pessoas que não importa o quanto elas tentem. Tudo passa, ele permanece. A vida é efêmera e nós estaremos sempre sós.

Eu tinha que encontrar um terço, mas nenhum terço era bonito o suficiente para as mãos dela. As mãozinhas delicadas, já envelhecidas pelo tempo. As unhas sempre feitas e bem cuidadas. A mão na qual ela prendia a chave pendurada no dedo mínimo e saia a caminhar indo em direção a nossa casa. E fazia aquele barulho estridente quando as chaves balançando se chocavam uma a outra. Eu nunca mais iria ouvir esse som.

A capela do velório era tão pequena que se tornava impossível permanecer lá dentro. A impressão é de que tudo era pesado demais. Nós eramos grandes demais. Exceto ela, ela parecia tão pequena. Ao mesmo tempo, lá fora estava o zombeteiro sol. Não havia mais nenhum lugar seguro na terra. Eu nunca mais me sentiria em casa novamente. Nenhum lugar teria as cadeiras acolchoadas e o cheiro de café recém passado a qualquer hora do dia.

Ver o caixão ser fechado, carregado e concretado... como se todas as histórias de criança, a segurança de que tudo acaba bem, exatamente como nos contos de fada contados na cama da avó. Elas nem sempre acabam bem. Alguns sonhos são lacrados em paredes de concreto.

Naquele dia eu aprendi a dizer "nunca mais" e esqueci o real significado de "para sempre". Ela se foi e eu deixei de acreditar em Deus, papai noel, contos de fada e finais felizes.
E não, não foi uma troca justa.

Mas de qualquer maneira. Ela sabia o quanto ela era importante, o quanto era preciosa  e amada e isso faz com que tudo tenha valido a pena, mesmo que eu não soubesse exatamente como dizer adeus.


In Remembrance
Evergrey

I remember your voice and your dreams
Your smile when you laughed
And your pain when you screamed
I'll follow your footsteps let them be my guide
Can you save me from being myself?
It's hard to be strong when you're stuck in a shell
If you don't desert me I won't let you down

In remembrance
Of all the things you used to do
In remembrance
Of all the faith I had in you
In remembrance
And when I walk I walk for you
In remembrance of you

I remember when we used to run
Against any threat united as one
We faced all our fears
And we chased all the clouds blocking the sun
And through the haze that my sorrow created
I heard your voice and the promise you stated
And I...
Won't let you down

In remembrance
Of all the things you used to do
In remembrance
Of all the faith I had in you
In remembrance
And when I walk I walk for you
In remembrance of you

Cause I never saw you deserted
Or you never spoke so I heard it
Cause I would never let you down
Did you call me and I didn't listen?
Did I force you to make a decision?
Did I?

In remembrance
Of all the days we planned
And all the things we said we'd do
In remembrance
Of all the times we had
And the fate I shared with you
In remembrance
You'll always be my truth
Cause what I know I've learned from you
In remembrance of you
Of all the things you used to do
And all the faith I had in you
Cause when I walk I walk for you
In remembrance of you.

5 comentários:

  1. Todo mundo já perdeu, ou vai perder, alguém especial. A vida é bastante injusta nesse sentido - tudo conspira pra que tu ame alguém, mas é inevitável que, um dia, esse alguém se vá, de uma forma ou de outra. É triste pensar nisso...

    Também era uma manha ensolarada quando meu pai se foi. Meu mundo também passou a fazer menos sentido depois disso...

    O que me ensinaram, e que eu aprendi que faz sentido, mesmo sem ser religioso e acreditar em nada referente a isso, é que essas pessoas que nós gostávamos também gostavam de nós. E assim como nós não gostamos da idéia de vê-las partir, elas certamente não gostariam da idéia de ver-nos tristes; ou melhor - elas certamente são capazes de entender nossa tristeza, mas não gostaríamos que sofrêssemos tanto por sua causa.

    E as memórias que elas nos deixam são suficientes para podermos sorrir ao lembrar delas. E por mais que elas sejam insubstituíveis, por que sempre são, seu mundo pode voltar a fazer sentido assim que você acha alguém pra gostar de novo.

    Te amo Lisa - e se tu quiser voltar a acreditar em Papai Noel, tu pode! Tenho certeza que ela gostaria disso... ;)

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  2. Muito, muito triste tudo isso.
    Beijo negrinha, obrigada pelo carinho.
    Josi

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  3. que bom que tu compartilhaste.
    E se tu queres saber, mesmo que tu não acredite em Deus, ele ta cuidando dela, sei lá como, mas ta.
    E ela deve ta junto com a minha agora dizendo: pq essas gurias nao param com essa coisa de internet e nao vao ler um livro?????

    auhoihehaiehah

    #AMO

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  4. Ainda não dá pra comentar...
    Quem sabe um dia!
    Bjos
    Te amo

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